Luta por Justiça: Histórias Reais de Responsabilidade Social no Local de Trabalho

Quando aquele envelope chegou, uma sensação de inquietação me invadiu. Uma intimação do Ministério Público do Trabalho, um chamado para desvendar um enigma sombrio que pairava sobre a empresa que eu conhecia tão bem. Uma denúncia anônima de assédio moral, um grito mudo que ecoava pelos corredores e desafiava a minha compreensão.

Juntei minhas armas, documentos que eram como escudos de seriedade, e fui à batalha. Uma defesa prévia administrativa que resultou em vitória, um suspiro de alívio que mal teve tempo de se dissipar antes que uma nova tempestade se formasse.

O denunciante revelado, um protagonista sombrio que teceu uma trama perigosa de vingança. Um acidente premeditado, uma substância química que se tornou o véu da sua própria queda. E então, o caos se instalou, sirenes ecoaram, e o palco estava armado para uma batalha legal épica.

A ação trabalhista veio como um trovão, um pedido de indenização milionária que pairava como uma espada sobre a empresa. Culpa e responsabilidade se misturaram no tribunal, mas mesmo diante da clara responsabilidade do reclamante, o juiz viu uma sombra de culpa compartilhada.

A vitória parcial foi uma lâmina afiada em meio à névoa da incerteza. Danos estéticos, uma cicatriz no couro cabeludo que ecoava a marca indelével de uma batalha travada. A empresa comemorou por ter reduzida em larga monta a pretensão autoral. Mas essa situação me deixou intrigada.

A intriga cresceu dentro de mim como uma chama que se aviva diante do desconhecido. Decidi então mergulhar mais fundo nesse mistério, especialmente após concluir meu MBA em prática previdenciária, um curso que iluminou ainda mais minha compreensão sobre esse tema crucial.

Não me contentei com o superficial. Busquei conhecimento vorazmente, devorando livros, participando de cursos e seminários que lançaram luz sobre os recantos mais obscuros dessa questão. Com uma carteira de processos que crescia a cada dia, tornei-me uma especialista demandada por escritórios ávidos por desvendar os segredos dos acidentes de trabalho. Na minha carta de motivação para ingresso ao Grupo de Pesquisas sobre Meio Ambiente de Trabalho da USP, liderado pelo Professor e Juiz Guilherme Feliciano, elucidei minha paixão sobre o tema: "Minha opção pela participação do Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente de Trabalho se justifica por que é o tema que mais me identifico, na seara laboral, e que escolhi como área de atuação que pretendo exercer durante toda a vida, por meio de ações e defesas judiciais, cursos, treinamentos, palestras e livros. Já tendo prestado uma singela contribuição à comunidade, por meio de disseminação de conteúdo, desde 2016, por meio de blog e canal nas principais mídias sociais sobre o tema trabalhista e enfoque nas demandas acidentárias, o "pitadas de direito"

Afinal este é um subcampo da atuação trabalhista que pouca gente se dedica, mas quem mais tem impacto direto na vida das pessoas, especialmente quando lidamos na nossa própria casa.

A dor ainda queima em meu peito quando lembro dos horrores de um acidente de trabalho, não como um espectador, mas como um filho que viu sua mãe ser lançada a uma distância inimaginável, sua forma irreconhecível, seus ossos quebrados contando uma história de tragédia.

Meu irmãozinho, na época pequeno e indefeso, tremia de medo diante daquela mulher desfigurada que antes era nossa mãe amorosa e presente, que teve que reaprender a realizar atividades simples da vida normal.

E assim, com o peso da injustiça marcando meu coração, eu me formei, mas não pude esquecer. Não pude deixar de lutar. E assim, ergui minha voz e minha caneta contra a empregadora, a Municipalidade, buscando justiça, buscando o reconhecimento das indenizações trabalhistas devidas.

A batalha ainda está em curso, cada linha da petição é um grito de revolta e de esperança, cada audiência é um passo em direção à redenção. E eu não desistirei, não enquanto houver uma faísca de justiça a ser buscada, não enquanto houver uma história de dor a ser transformada em uma história de triunfo.

E descobri que nada faz meu coração vibrar mais intensamente do que as batalhas que moldam destinos, que resgatam vidas de um mar de incertezas. No vasto campo da justiça trabalhista, é na proteção das vidas humanas que encontro minha mais profunda inspiração.

Minha jornada não é apenas uma busca por justiça individual, mas sim uma missão de responsabilidade social, uma luta incansável por um ambiente de trabalho seguro e saudável. Porque acredito que a verdadeira riqueza de uma empresa reside na valorização do ser humano, na priorização do bem-estar de cada pessoa que faz parte dela.

A segurança no trabalho não é apenas uma obrigação legal, é uma expressão de respeito e cuidado para com aqueles que dedicam suas horas preciosas ao serviço de uma causa maior. Valorizar o ser humano é colocar sua dignidade e sua segurança acima de qualquer lucro ou conveniência.

Esta é minha missão: promover uma cultura de valorização das pessoas, onde cada indivíduo possa trabalhar com dignidade, protegido dos perigos e das injustiças que assombram muitos locais de trabalho. E não descansarei até que essa visão se torne realidade em cada empresa, em cada canto deste mundo.

E tenho ajudado muitas pessoas nesse país a fora.

Por Gicelli S da Silva Paixão. Advogada desde 2011, Professora de Direito na FAZP, escritora, palestrante e consultora empresarial nas áreas de Direito do Trabalho para Empresas e Gestão Estratégica trabalhista e previdenciária. Presidente da Comissão Nacional de Direito do Trabalho da Associação Brasileira dos Advogados na gestão 2020/2021. Especializanda em Direito do Trabalho pela USP. Pesquisadora do GPMAT-USP. Especialista em Arbitragem pela FGV e Especialista em Direito Empresarial pelas Faculdades Legale/SP. Especialista em Direito da Seguridade Social. Possui MBA em Prática Previdenciária. Colunista de jornais e revistas como CIPA e portais da internet e autora dos livros: De aprendiz a patrão: a saga de um trabalhador; “Comentários sobre a reforma trabalhista” e “Invalidez Social”, pelas Editoras Autografia (RJ), Kindle Amazon (SP) e Saraiva E-book (SP). Coordenadora e Co-autora do Livro Advocacia na Prática pela Editora Mizuno. Ex Sócia e coordenadora Adjunta Trabalhista e Previdenciária no Escritório Braga Nascimento e Zílio. Fundadora e Advogada responsável do Escritório Gicelli Paixão Advocacia e Consultoria Jurídica trabalhista que se dedica ao atendimento de projetos em empresas de pequeno e médio porte. Administradora do IG jurídico @pitadasdedireito e site www.pitadasdedireito.com. Criadora da Marca Pitadas de Direito.